Um lugar para a tristeza

sábado, 8 de maio de 2010 17:48 Postado por Carina Dourado
O fato você já sabe: o Fernando se matou.

E eu fiquei lembrando com ironia daquela música do Legião "ela se jogou da janela do quinto andar, nada fácil de entender".

Em Goiânia, era fato: eu tinha mais amigos com depressão. Gente que às vezes ficava dias sem sair de casa porque estava mal. Respeitavam a dor. Mas nunca vi ninguém se suicidar.

Aqui, não vejo ninguém falar que tem depressão. Na verdade, você assumir que está triste é quase um atestado de óbito. Geralmente (e quando digo isso, é porque já me preocupei),  a minha tristeza não me incomoda. Sei respeitar minhas fases - alegria, tristeza, desânimo. Não forço. A vida é assim, de fases.

Mas aqui, estar alegre é lei. Você sai e só vê gente que se diz feliz. Isso me perturba um pouco. Não por não gostar da felicidade alheia. Mas porque às vezes soa forçado. E na maioria das vezes a gente acredita.

E se não falam, restam os sinais. E eles parecem ser tão difíceis de se notar! Difícil imaginar os problemas, aflições, mágoas, sofrimentos.

Me lembro quando você voltou da Espanha e estava sofrendo. Teve seus momentos de reclusão. De solidão. De não querer falar nada com ninguém. E eu respeitei. Apesar de que muita gente não.

Porque aqui é inconcebível estar triste.
Mas é lei ser feliz.

E isso, nem sempre, é bom.

Imaginar o corpo dele estirado no chão me faz ter certeza disso.

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