Lugar certo ou atitude certa?

O que você escreveu me fez olhar para tudo a minha volta e me sentir como se não estivesse no lugar certo.

Mas preciso parar de pensar assim. Estou no lugar que deveria estar porque essa é só uma vida e pronto. Eu posso sair daqui a hora que quiser e só não saio porque tenho um emprego que me paga bem. Tenho um apartamento que gosto. Tenho conforto. E um menino lindo do meu lado que conseguiu arrumar um emprego aqui para ficar comigo.

Se eu quiser (e se ele topar), a gente joga tudo isso para cima e vai embora.

Engraçado é que eu tenho a sensação de que ainda vou morar fora daqui, num lugar que dê para fazer tudo o que você fez e sente falta. Mas não agora. Talvez, mês que vem, quem sabe?

(engraçado também porque quando morei em Goiânia, tinha a mesma sensação, de que ia voltar pra cá)

Mas neste exato segundo, eu estou aqui. De frente para uma janela que me dá uma amplitude tão grande. Sentada depois de fazer almoço do jeito que eu tenho que comer, com muita coisa natural, tomando uma xícara enorme de chá e vendo o céu tão lindo.

Se eu não posso estar ali, onde queria, tenho que me agarrar, por enquanto, nas coisas boas. Sabe o que acho estranho? Voltei a gostar de Brasília. De coisas pequenas, mas estou fazendo as pazes com a cidade - o que a torna menos cruel de se morar.

Ainda bem que moro aqui nessa fase. Achei um médico que está me investigando por completa. Tem lojas que vendem coisas que achei que não poderia comer mais por restrições alimentares. Tenho academia no meu prédio (mesmo que eu nunca tenha descido pra lá pra fazer exercício). O salário que eu ganho, aguentando o que eu aguento todos os dias - gente gritando, desrespeito, fofoquinhas e blablablás - consigo fazer o que gosto. E ainda sobra dinheiro!

Então é isso.
Eu me estipulei isso (apesar de não ser nada disciplinada): vou tentar achar coisas boas por aqui. Porque preciso, questão de sobrevivência.

Mas, claro, sem deixar de sonhar com um lugar onde as pessoas dão livro umas para as outras em datas especiais. Ou façam flashmobs no metrô.

Eu sei que tem lugar melhor para ir... e um dia, eu vou.

Hoje, eu não queria estar aqui…

sexta-feira, 23 de abril de 2010 11:59 Postado por Alessandra Peruzzo 0 comentários

Hoje, eu queria estar em outro lugar. Em um lugar onde visse muita gente andando nas ruas, carregando sacolas cheias de livros e flores. Hoje, eu queria ver um mar de gente andando pra lá e pra cá. Queria sentir o sol no meu rosto e olhar pra cima e pros lados, enquanto caminhava, apreciando prédios, postes, árvores, ruas… personagens.

Hoje, eu queria não ter que ir para minha casa de carro. Aliás, eu não queria ir para a minha casa. Queria caminhar, caminhar, caminhar. Depois de muito tempo caminhando e observando as pessoas, eu queria sentar numa mesa de bar, um desses barzinhos de esquina, bem fulerinha e familiar. Eu queria tomar cerveja e comer papas bravas e ao alho e óleo (eram as melhores)! Fumar um porro com minhas amigas (apesar de nem gostar muito disso) e conversar e conversar! Depois, se desse, gostaria de caminhar no parque e sentar no gramado. A conversa continuaria.

Mais tarde, quem sabe, dançar um pouquinho. Desengonçada, completamente desajustada. Mas feliz! Sorrindo, o que é mais importante.

No fim dia, queria ir à casa da minha outra amiga. Lá beber um licor, conversar amenidades e fumar a chicha com chucherías. E voltar para casa só depois da meia-noite, caminhando… e apreciando prédios, postes, árvores…

Hoje, eu queria ser o personagem principal da minha própria vida. E seguir o roteiro – aquele de fantasias - que eu escolhi pra mim.

sobre o que fazer

Dia desses eu assisti aquele programa que você me mostrou uma vez na sua casa - no estranho planeta dos seres audiovisuais. Engraçado que vi o mesmo episódio, sobre internet. E fiquei pensando: por que a gente, cheia de idéias, não bota um monte de porcarias na internet e se alguém ver bom, se ninguém ver, fica como tá.

Medo, preguiça, disponibilidade de tempo. Eu tenho tempo para jogar Farmville no Facebook. Mas pra sentar e elaborar coisas, não. Ando pensando seriamente naquela idéia de papo de bêbado (lembra?) e acho que aquilo lá tem esperança e futuro. Mesmo se for tosco.

Tosco por tosco, a MTV tem tanta coisa tosca (e que, muitas vezes dá certo) que quando o 'artista' sai de lá, acaba perdendo o brilho porque perde a espontaneidade. E acho que isso a gente tem.

Eu vi uma frase esses dias, em algum lugar, dizendo que... Gosh, como eu queria lembrar a frase - memória péssima, lembra? Ah, acabei de achar aqui, de um e-mail que me foi encaminhado: "Obedecer, ou acertar, sempre é fazer um pacto com o óbvio, renunciar ao inesperado. "

Sinceramente... não quero renunciar ao inesperado. É sempre tão bom surpresas boas! Por isso acho que pensar diferente, agir diferente, sair da onda que todo mundo está é sempre tão surpreendente. Gosto de ir contra a maré mesmo.

As férias estão sendo para descansar. Não tenho pensado em nada de filosofia para a vida. Só tenho sentido saudades do meu menino lindo, das nossas conversas, de não ter limites (acredite, com a mãe do lado isso acaba) e da minha cama. Daqui uns dias eu volto e não volto querendo mais. Eu volto é querendo viver mais, mesmo onde eu estiver.

Chega de hibernar! Quero viver, mesmo que aos pouquinhos, coisas novas todos os dias.

P.S.: Tô preta de sol. De-tes-to! Mas tá sendo tão bom ver e entrar no mar todo dia... é o preço que se paga.

Depois da tempestade…

11:35 Postado por Alessandra Peruzzo 0 comentários

Doce ilusão, nina, achar que eu sei o meu caminho. Na verdade, eu sei do que eu gosto, assim como você. Sei que, no meio de tantas dores, nesse sábado, tive uma aula de fotografia e andei pra lá e pra cá, me agachei, sentei no chão e... pensa se senti alguma coisa? Nada! No fim do dia, estava um pouco dolorida, mas foi só.

Dei-me conta que aquele momento foi tão intenso e pessoal, que eu consegui fazer o que todo mundo diz que faz quando medita direito: eu esqueci tudo e todos, eu só existia para aquele momento, para aquela paisagem e para aquela máquina fotográfica. Estava tão envolvida com acertar o diafragma e a velocidade e atingir a fotometria perfeita, que não pensei em mais nada. Abstrai, em meio a números minúsculos e cenários que eu mesma montava na telinha da câmera emprestada.

Engraçado ler sua carta hoje, porque faz poucos dias que me dei conta disso: eu não sei o que fazer para transformar o que eu gosto numa maneira de sobrevivência e de trabalho. Porque eu preciso fazer isso, é questão de saúde. O excesso de tempo sentada em um escritório me fez passar mais de mês peregrinando entre médicos e salas de exame. Mas o excesso de tempo segurando um microfone e correndo pra lá e pra cá atrás de políticos (na época em que era repórter) também me prejudicou. O que eu gosto é o meio termo entre esses dois extremos e, claro, tudo que esteja ligado à arte.

Depois de um longo tempo de hibernação, alguns desesperos, outros tantos resgates, a descoberta de pessoas e a percepção de que há que se aproveitar o momento, estou voltando, aos poucos, à vida. E, talvez, com outros olhos (assim espero). Quero levar tudo mais leve e quero fazer o que eu gosto. Ainda não sei como, mas acho que estou no caminho.

Uma senhorinha muito fofa, que comemorou 82 anos nesta semana, olhou pra mim com muito carinho, segurou a minha mão e disse, olhando nos meus olhos: “não tenha medo de viver”. Ela sempre me diz coisas sábias e nas horas exatas. Ela vê através de mim. Ou melhor, ela me vê lá dentro, como sou. Acho que ela sabe coisas de mim que nem eu mesma sei. Talvez seja a sabedoria de todo esse tempo de vivência.

O rostinho dela e essa frase estão me acompanhando desde então. Assim como os rostos de pessoas que se preocuparam comigo e que reservaram momentos de própria vida para cuidar de mim. Elas são especiais. E quero mostrar pra elas que o que fizeram por mim valeu a pena. Quero levar a vida mais leve... Passa tão rápido... Então, que seja sempre especial. Tomara que eu consiga, não é!

Volta logo, com toda a energia renovada!