Depois da tempestade…

quarta-feira, 14 de abril de 2010 11:35 Postado por Alessandra Peruzzo

Doce ilusão, nina, achar que eu sei o meu caminho. Na verdade, eu sei do que eu gosto, assim como você. Sei que, no meio de tantas dores, nesse sábado, tive uma aula de fotografia e andei pra lá e pra cá, me agachei, sentei no chão e... pensa se senti alguma coisa? Nada! No fim do dia, estava um pouco dolorida, mas foi só.

Dei-me conta que aquele momento foi tão intenso e pessoal, que eu consegui fazer o que todo mundo diz que faz quando medita direito: eu esqueci tudo e todos, eu só existia para aquele momento, para aquela paisagem e para aquela máquina fotográfica. Estava tão envolvida com acertar o diafragma e a velocidade e atingir a fotometria perfeita, que não pensei em mais nada. Abstrai, em meio a números minúsculos e cenários que eu mesma montava na telinha da câmera emprestada.

Engraçado ler sua carta hoje, porque faz poucos dias que me dei conta disso: eu não sei o que fazer para transformar o que eu gosto numa maneira de sobrevivência e de trabalho. Porque eu preciso fazer isso, é questão de saúde. O excesso de tempo sentada em um escritório me fez passar mais de mês peregrinando entre médicos e salas de exame. Mas o excesso de tempo segurando um microfone e correndo pra lá e pra cá atrás de políticos (na época em que era repórter) também me prejudicou. O que eu gosto é o meio termo entre esses dois extremos e, claro, tudo que esteja ligado à arte.

Depois de um longo tempo de hibernação, alguns desesperos, outros tantos resgates, a descoberta de pessoas e a percepção de que há que se aproveitar o momento, estou voltando, aos poucos, à vida. E, talvez, com outros olhos (assim espero). Quero levar tudo mais leve e quero fazer o que eu gosto. Ainda não sei como, mas acho que estou no caminho.

Uma senhorinha muito fofa, que comemorou 82 anos nesta semana, olhou pra mim com muito carinho, segurou a minha mão e disse, olhando nos meus olhos: “não tenha medo de viver”. Ela sempre me diz coisas sábias e nas horas exatas. Ela vê através de mim. Ou melhor, ela me vê lá dentro, como sou. Acho que ela sabe coisas de mim que nem eu mesma sei. Talvez seja a sabedoria de todo esse tempo de vivência.

O rostinho dela e essa frase estão me acompanhando desde então. Assim como os rostos de pessoas que se preocuparam comigo e que reservaram momentos de própria vida para cuidar de mim. Elas são especiais. E quero mostrar pra elas que o que fizeram por mim valeu a pena. Quero levar a vida mais leve... Passa tão rápido... Então, que seja sempre especial. Tomara que eu consiga, não é!

Volta logo, com toda a energia renovada!

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